“É necessário conhecer-se a si mesmo. Ainda quando isso não servisse para encontrar a verdade, pelo menos serve para regrar a própria vida, e nada há de mais justo.”
Blaise Pascal (Pensamentos,72(66))
Caso já tenha se instaurado no hábito pela busca da instantaneidade, informo que o descritivo da síndrome está no final do texto, logo deixe para trás a qualidade de seu tempo e passe aos parágrafos seguintes. Lembro apenas que este habito é um dos fatores desencadeantes da síndrome. Caso este hábito ainda não esteja consolidado, desejo boa leitura.
Viver nos impõe ritmo. Outra forma de dizer isto seria: A vida nos comunica ritmos, mas como se trata de uma reflexão sobre síndrome, impor é um adequado imperativo. Dentro disto, simplificaremos e trataremos do amanhecer, entardecer e anoitecer. Nos são reservados 3 períodos diários para que possamos organizar nossa rotina (sim, rotina não está fora de moda!), nosso ritmo, com as devidas singularidades respeitadas e considerando o mínimo de equilíbrio necessário iniciaremos pelo repouso.
Repouso: Momento através do qual o organismo tem a possibilidade de recompor-se, necessitando física e mentalmente de um período qualquer afastado de problemas e agitações. Certa tranquilidade precisa de essenciais horas de sono, de pausa, de ócio. Considerar que apesar das questões conflitantes este momento ocupe um espaço nas cenas de prioridade diante ao atual valorizado ritmo da vida, é similar e tão eficiente quanto ingestão de água e consumo de alimentos adequados ao bom funcionamento de nosso organismo.
Atividade profissional / profissionalizante: (matutinas, vespertinas ou noturnas / meio período, integral, diversificadas): Momento através do qual a produtividade é considerada e direcionada para os afazeres corporativos, domésticos, escolares os quais sabemos que envolvem extensas conexões, o que evidencia a disciplina como fator norteador para contabilizar os afazeres de acordo com prioridades e possibilidades de execução.
Atividades particulares: Momento através do qual o indivíduo se relaciona com fatores espirituais, familiares, amigos, animais de estimação, hobbies,etc
Incluir repouso, atividades profissionais ou profissionalizantes, atividades particulares no ritmo da vida dentro do amanhecer, entardecer e anoitecer é um dilema vivenciado ainda mais pesarosamente nos dias atuais, porém é de responsabilidade pessoal e intransferível.
Para cada período rítmico serão apresentados conflitos e resoluções. Equilibrar cada qual em seu espaço pode facilitar seu bom e adequado uso.
Segundo o filósofo coreano Buyng – Chul Han, (autor de instigantes ensaios filosóficos sobre a sociedade atual), a falta rítmica representa uma “dispersão temporal”. Daí o hábito citado anteriormente como um dos principais fatores desencadeantes desta síndrome por agora começar a se interligar com diversas maneiras de instantaneidade, sendo até mesmo induzida pela ausência rítmica contida nos marketing de aplicativos e caixas de e-mails, fazendo com que os recursos tecnológicos fiquem acoplados à identidade das pessoas na sociedade atual.
( Em uma recente reunião a falta de um dos integrantes foi mencionada como sendo: “A X da capa de IPAD prata”), desta forma trago acoplados porque tem se tornado frequente também a queixa: “X me cobra resposta imediata!” Logo, quem cobra tem acesso livre ao que se sente incomodado, sugerindo que não é X que tem o e-mail, twitter, whatsapp, instagram ou o que o valha e sim o e-mail, twitter, whatsapp, instagram, que o tem. Além de outro ponto, não menos importante, de que nenhum contrato ou acordo relacional deva ter sido realizado com X e por X, estando relações e plataformas de acesso acopladas à sua pessoa. Caso contrário, como X sentiria incômodo ou adquiriria a síndrome de Burnout se não fosse obrigada a responder ou acessar de imediato as demandas externas?
Este acoplamento por falta de responsabilidade pessoal e intransferível de X desemboca na síndrome que está relacionada com a falta de limite e de adequação rítmica de vida dispersando tempo, sentido e significado de estruturas vitais.
A equação não fechará enquanto a responsabilidade individual não for questionada. Para que manter em aberto limites de respeito relacional acessíveis na palma da mão ou da ordem à “Siri e similares” instantaneamente?
Atribui-se frequentemente ao outro quando Xs são questionados:
“O mercado de trabalho é assim, se eu não estiver disponível, perco a vaga, a colocação, a promoção, o ano, a carreira, o boy ou a girl, o relacionamento…
Com isto então Xs passam a ser acoplados às demandas, que me fazem pensar em uma massa de pessoas irresponsáveis com suas próprias vidas e que consequentemente estarão sendo diagnosticadas com esta síndrome ou outras enfermidades. Um quadro diferente de inclusões medicamentosas ou em diagnósticos só será possível pelo indivíduo que priorize sua saúde física e mental ao imediatismo presentificado nas demandas do cotidiano atual.
Colocar intenção ao que se fará é a semente da rotina que poderá ser escolhida progressivamente contra o imediatismo cotidiano, dado a se observar que o tempo é um recurso humano cada vez menos valorizado devido à escolha de como vivencia-lo.
Observemos a descrição dos sintomas da Síndrome de Burnout:
Os sintomas da síndrome de Burnout podem ser físicos ou psicológicos, sendo que a pessoa pode apresentar:
– Cansaço mental e físico excessivos;
– Insônia;
– Dificuldade de concentração;
– Perda de apetite;
– Irritabilidade e agressividade;
– Lapsos de memória;
– Baixa autoestima;
– Desânimo e apatia;
– Dores de cabeça e no corpo;
– Negatividade constante;
– Sentimentos de derrota, de fracasso e de insegurança;
– Isolamento social;
– Pressão alta e
– Tristeza excessiva.
Apesar do destaque ao ambiente de trabalho que a caracteriza, tais sintomas não seriam possíveis em outros contextos? Tais sintomas não nos fazem visitas ao longo de nossa experiência vivencial? Mesmo que saibamos que a intensidade e frequência dos sintomas que caracterizam esta ou demais síndromes, não nos caberia pensarmos sobre o que eles nos revelam, nos demonstram?
Questionando a relação com o ambiente de trabalho continuo com indagações a respeito das prioridades adquirirem um “instinto mercadológico”, acoplado em e-mails, instagram, twitter, facebook e demais redes de acesso imediato.
Caso na observância dos sintomas você não encontre “normalidades”, me desculpe pela epígrafe escolhida, porém se encontrar atente-se para que não persiga intensidades doentias, reavalie seu ritmo e suas prioridades na rotina. Pode ser apenas que você tenha se esquecido dentro de algum recurso tecnológico, dentro de um celular ou computador, dentro de uma reunião importante ou de um encontro que o deixe contrariado.
Não estar acometido por síndromes é poder contemplar: trabalho, amigos, amores, saúde física e mental, espiritualidade, enfim, sua própria vida.
Karina Giacheri
Psicóloga
CRP:06/63104